domingo, 10 de agosto de 2014

Kafka & Dostoievski

Decidi contar o que está havendo comigo.
Embora creia que isto não interessa a ninguém, ainda assim vou relatar.
Tenho um problema que nunca foi diagnosticado direito. E que, na falta de terminologia médica, refiro-me a isto dizendo que o “meu cérebro para”. E para! E pronto.
A primeira vez que passei por isso Foi em 1993, quando fiquei por nove meses trancado no quarto sem falar nada, com ninguém, sem pensar direito, sem poder tomar decisões, sem sentir nada. Completamente apático. De relho vinha a família a me chamar de vadio e vagabundo por não fazer nada. O suicídio sempre foi minha melhor opção, mas inválida. Não resolveria nada.
Depois de nove meses, decidi, por teimosia, fazer alguma coisa, e fui para a rua, por quase um ano (1994) consegui trabalhar direito, então o problema voltou. E o problemas recomeçaram, e se seguiram e se empilharam. Semanas eu conseguia trabalhar, semanas que meu cérebro dormia mesmo desperto, meu cérebro não funcionava.
Em 2001 eu já tinha 4 filhos e até 2003 já havia sido preso 4 vezes, por processos de pensão alimentícia. Passei dez dias em um presídio junto com marginais de toda sorte, ou má sorte.
Tentei ir para a faculdade. Quase deu certo. Mas em 2007 meu cérebro “travou” de vez. E não funcionou mais direito, o que resultou em minha falência completa. Não se trata de ter uma visão distorcida da realidade, o que acontece é que o cérebro para. Não há raciocínio algum, depois de dormir por dias, volto ao normal. Normal por uns dias.
De forma que não posso assumir compromissos de nenhum tipo, pois nunca sei quando estarei em condições de agir, quando meu cérebro estará “funcionando” (para usar uma terminologia mecanicista).
Sou muito lúcido, tenho plena consciência da realidade e da minha situação e do meu sofrimento.
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Psiquiatras têm atestado que sou hiperativo, bipolar, e transtornos vários. Tenho mesmo uma hiperatividade mental, penso mil coisas por minuto. E estando bem sou bom em resolver problemas. Sinto que minha atividade mental é bem parecida com a personagem Sherlock Holmes que pensa muito e muito rápido; tenho consciência de uma percepção extra-sensorial muito aguçada, o que me faz sofrer muito se estiver em meio a muita gente.
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Os efeitos disso tudo são dores musculares, por vezes fico dois três dias sem dormir por causa das dores, outras vezes durmo três, cinco dias sem parar.
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Resultado: estou falido e desacreditado. A família não entende o que se passa comigo, cada um tem seus próprios problemas e eu virei a batata quente do pedaço. Não sei o que fazer, não tenho para onde ir, e ninguém para ajudar, com exceção de alguns amigos que entendem o que se passa comigo.
Os detalhes da minha vida dariam um livro bem volumoso, isso se alguém se interessasse na vida desgraçada de um pobre diabo.
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Minha jornada me transformou, matei o homem que era e tomei seu lugar. Matei quem eu era e me transformei neste desconhecido.


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