quarta-feira, 23 de abril de 2008

40 anos de crise

Fui educado neste mundo. Sempre acreditei em tudo que me disseram. Começou com minha mãe, depois parentes próximos, vizinhos, os mais velhos em geral e a escola com seus professores que nada tem a professar.
Mas queria saber mais e mergulhei no mundo das letras, os livros, as revistas e a escrita.
Por conta de acreditar em tudo quanto me diziam, muito errei. No princípio pela fé, depois pelo orgulho, enfim pelo vício e, no fundo do buraco, por não ter escolha.
Desatar-me da tradição social e do convívio dos que ainda seguem o “modus vivend” operante é difícil. Mas insisto em viver meu próprio modo de vida, os amigos e amores foram ficando para trás, juntamente com todos os que vivem de forma descompromissada, fazem qualquer coisa, topam qualquer parada: “Não dá nada!”, dizem.
Não estou aqui me opondo contra alguém ou contra qualquer modo de vida, cada um deve viver a sua vida da maneira que mais lhe aprouver. A questão é que a princípio eu acreditei que era assim mesmo que se devia viver a vida: de qualquer maneira, atendendo apenas aos próprios interesses. Mas, isto gera várias vidas secretas entrelaçadas numa rede de mentiras e mentirosos que não suportei.
Apesar de não condenar ninguém, resolvi mudar de vida. Mentir nunca mais. E a partir daquele momento os sentimentos e necessidades dos outros passou a me interessar. Passei a perceber tristeza e vazio nas pessoas; desesperança, medo, fuga. Tantos que não sabem o que fazer de suas vidas, um desespero que leva às raias da loucura e do suicídio espetacular.
Senti uma grande compaixão. De mim e de todos nós. Vivemos enganados. Meu espírito nunca tinha paz. Nunca conseguia atender as exigências do mercado, nunca era bom o bastante e sempre havia alguém atrás me ameaçando os passos. Queria trabalhar para ser útil a humanidade, mas as empresas trabalham apenas para o lucro; tudo é bonito e anatômico para vender mais. Não há qualquer preocupação com o bem estar social, com o desenvolvimento humano.
Há muitos seres humanos hoje preocupados com o desenvolvimento da humanidade, é em busca destes que escrevo estas linhas.
Resolvi mudar minha vida, ser bom, desenvolver virtudes, bons hábitos, bons costumes, ser fiel, verdadeiro e monogâmico. Meu passado me condena, eu sei. Mas era um homem que acreditava no que a sociedade ensinou, hoje não acredito mais. Voltei-me para a espiritualidade e pretendo ser um homem religioso. Sei que é difícil romper com os velhos hábitos sociais, abandonar os vícios que desenvolvemos enquanto enganados, fugir do circuito integrado do sexo e da moda, mas sou forte e meu espírito de decisão aprendeu a suportar os revezes mantendo o amor e a compaixão.
Já não condeno ou absolvo mais ninguém, já não espero que me sejam fiéis e leais, já não tenho um ego articulado, vigilante e matreiro, esse Lúcifer que a sociedade de consumo pôs dentro de mim, e que por algum tempo aceitei como norma para viver entre os homens. Já não me importa morrer sozinho em uma calçada. Não mais entregarei meu coração e minha alma em troca das tolices que a sociedade gerou como indispensáveis.
Há quarenta anos estou de volta a este planeta. Repeti todos os erros de outras vidas. Mas agora chega! Sou um homem novo. Meu passado morreu pra mim!
Não escrevo para ser famoso ou ter sucesso, mas para dividir minha experiência com quantos já pressentem a nova aurora da humanidade, para gritar, a quantos seres humanos que cansaram de viver vidas de mentira, que eu também cansei e me declaro, a partir de hoje, um espírito livre das incongruências sócias e pago o preço que for preciso, mas repetir erros, nunca mais!

Antenor Emerich – terça-feira, 22 de abril de 2008